7 Julho 2015      17:27

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200 EUROS POR ANO PARA CORRER

Um runner Português gasta 200€/ano em equipamentos de corrida.

A notícia de hoje não é nova e tem por base um estudo levado a cabo em 2014 pelo IPAM – The Marketing School, intitulado “Prática da Corrida em Portugal”.

Escrevo esta crónica essencialmente por dois motivos: por um lado sou orgulhosamente um runner (forte abraço aos Évora Night Runners, o grupo de doidos que acompanho pelo menos duas vezes por semana) e por outro esta será a minha última crónica antes das férias, o que aliado aos calores que se têm sentido só me dão vontade de “correr” para as férias!

Segundo este estudo, existem mais 1.5 milhões de portugueses, que tal como eu, já não passam sem as suas corridas semanais! Com base nestes números, a corrida é já o quarto desporto mais praticado no nosso País.

O retrato-robô do runner português foi traçado e pertence a um homem, de 36 anos, casado, auferindo entre 1.500 e 3.000 euros por mês e possuidor de um curso de ensino superior. Pela minha observação empírica, não está muito desfasado da realidade.

É referido ainda que 67 por cento dos inquiridos corre em circuitos urbanos, a maioria (55 por cento) pratica a modalidade duas a três vezes por semana e no topo das motivações para correr está a busca pelo bem-estar, saúde e a manutenção da forma física.

E sobre economia? Sim, porque esta é uma crónica sobre economia!

O trabalho revela que, em média, cada atleta gasta 195 euros por ano em vestuário (77 euros) e calçado desportivo (118 euros), estimando em 108 milhões de euros o valor total despendido, anualmente, pelos amantes desta modalidade em equipamentos de corrida.

Se a nível de vestuário até posso considerar o valor médio como realista, já no que toca a calçado desportivo a realidade é outra. Se um corredor correr em média 30 km por semana, isso dará que em 6 meses tenha corrido 720 km com um único par de ténis. As marcas recomendam que se troque de ténis depois de 400km-500km, pelo que após 6 meses é bem provável que já não haja sola suficiente para continuar a correr.

E só para baralhar um pouco mais, porque não considerar o facto do runner poder treinar em modo urbano ou em comunhão com a natureza, nos cada vez mais concorridos trails? Os ténis para um tipo de solo não são inteiramente compatíveis com o outro, pelo que com a maior das facilidades um runner compra 4 pares de ténis por ano.

E porque não falar dos acessórios? A simples armband que nenhum runner dispensa, a não ser que possua um relógio GPS? Umas meias de compressão que também estão muito na moda? Mais umas boas dezenas de euros/ano.

E as provas? Que têm surgido que nem cogumelos? Todos os fins-de-semana existe um calendário de provas para todos os gostos. A sua inscrição ronda os 10€-20€. Mais umas largas dezenas de euros, sem levar em conta as despesas inerentes à deslocação.

Contas redondas, se disser que um runner gasta em média 400€/ano com este hobby creio não estar muito enganado. Digam-me de vossa justiça…

Tirando os ténis e calçando agora uns sapatos de economista, sem dúvida nenhuma que estamos perante um mercado em crescimento e com grande potencial. Já não são só as lojas especializadas que apostam neste desporto, todas as insígnias mais generalistas dedicam-lhe feiras e afins. As provas organizadas surgem a uma velocidade estonteante, os grupos de runners que se juntam e partilham eventos idem, idem…

Se temos mercado, se o runner tem, em média, um rendimento mensal acima da média, então podemos ter oportunidades de negócio! É um daqueles casos em que 1+1=3!

Vamos lá então? Pensar em ideias de negócio? Colocar em prática o “repetido até à exaustão” empreendedorismo?

·         Porque não organizar e fornecer abastecimentos em sítios chave e horas de ponta? Quantas vezes não disse para mim mesmo que pagava para ter aqui uma pinga de água?

·         Organizar percursos que permitam que a pessoa para além de correr desfrute e conheça algo (turismo de experiências! O turismo de cárcere, como alguém já sugeriu é disso um exemplo!)

·         Ou arranjar uma carrinha para assegurar, cobrando, o transporte para provas;

·         ….

Enfim, estou veemente convicto de que exista um infindável número de iniciativas privadas que podem surgir.

Ou…e há sempre um “ou”, não é verdade? Podem ser os atores públicos a olhar com mais atenção para este fenómeno, apoiando-o e dinamizando-o, quer diretamente, quer através de quem, de forma mais ou menos organizada já está no terreno. Porque não criar, identificar e sinalizar percursos? Criar pontos de água, pontos de descanso ou pontos para a “selfie”?

Bem sei que a conjuntura económica não é a mais favorável, mas é o princípio básico da economia: escolher quais as necessidades a satisfazer perante os recursos finitos de que dispomos.

E agora…correr para as férias. As 100 notas de economia voltam em seguida! Reencontramo-nos em Setembro!